Agora, tenta se recuperar emocionalmente e reconstruir sua vida no Brasil, onde conseguiu refúgio em 2014 e residência permanente meses depois.
S. aceitou falar na condição de que seu nome e seu país de origem não fossem revelados. Ele diz ter percebido muita homofobia entre os brasileiros e tem medo de perder clientes no negócio que criou para pagar as contas por aqui.
Ele conta que percebeu que era “diferente” no início da adolescência. “Eu me odiava. Vivia em autonegação. No meu país não somos livres para ser o que somos. Eu sentia uma dor no coração. Pensava: o que há de errado comigo?”, conta.
S. teve o primeiro namorado na época da faculdade, quando ganhou uma bolsa para estudar em outro país. Mas lá também é crime ser homossexual. “Foi extremamente difícil. Eu não tinha com quem falar sobre isso. E a autonegação continuava”, lembra.
Ele decidiu, então, “tentar virar hétero”. Relacionou-se com mulheres e descobriu que, na verdade, também sente atração por elas. A bissexualidade o deixou ainda mais confuso, e ele tentou ao máximo esconder suas relações com homens.
Mas não conseguiu. “Fui pego. As pessoas me viram, eu não tinha mais como esconder. E quando é assim, a vida da pessoa está condenada”, explica.
Ele foi então obrigado a conversar com a família. "Toda a conversa foi na direção de me culpar e também de pensar como iríamos nos proteger, porque era muito perigoso", diz.
S. afirma que eles foram chantageados e que ele e a irmã foram agredidos em casa e na rua. Também diz ter sido torturado e sequestrado. “Me levaram para dentro de uma mesquita e lá tentaram me fazer virar hétero”, começa. Mas não dá mais detalhes. Diz que a lembrança é dolorosa demais. “Não quero mais falar sobre isso”, interrompe. Também prefere não falar mais da família, com quem cortou relações.
Chegada ao Brasil
Depois que saiu de sua terra, S. morou em um país desenvolvido por oito anos. No fim desse período, ao ter seu pedido de residência permanente negado e sem poder voltar para casa, decidiu tentar a sorte na América Latina.
Começou em um país caribenho que não exigia visto de turismo para pessoas de sua nacionalidade. Mas foi detido por risco de imigração ilegal e, a partir daí, foi sendo jogado de um país a outro, vivendo em centros de detenção, até chegar ao Brasil, onde conseguiu apoio da organização Caritas.
Hoje, mora na periferia de São Paulo e dá aulas de idiomas para se sustentar. Não está namorando. O foco total, diz, está no trabalho – ao falar sobre seus projetos profissionais e sociais, seu rosto se ilumina pela primeira vez na entrevista.
Com dificuldade para dormir por causa das agressões físicas e psicológicas que viveu, ele foi diagnosticado com transtorno de estresse pós-traumático e toma remédios psiquiátricos.
Ainda está se recuperando de uma depressão. “Chegou a um ponto em que não queria mais viver", diz, acrescentando que resolveu "dar uma chance" a si mesmo. "Meu psiquiatra e as assistentes sociais me ajudaram a voltar à vida. Mas vai ser um longo processo que eu tenho que enfrentar.”
O ponto de virada aconteceu há cerca de cinco anos, quando ele resolveu falar abertamente sobre sua atração por pessoas do mesmo sexo em um grupo de discussão sobre traumas. “Quando comecei a verbalizar o que acontecia comigo, me deu um alívio. Eu me senti livre pela primeira vez. Foi aí que começou minha liberdade verdadeira”, afirma.
S. já fez amigos no Brasil e consegue dizer a verdade para a maioria deles. Mas se surpreendeu com o preconceito da sociedade brasileira em relação aos gays. “Eu via o Carnaval, pensava que seria ótimo. Mas no dia a dia é diferente”, afirma.
Segundo estimativas, a cada 28 horas um homossexual morre de forma violenta no Brasil. Desde o início de 2016, 132 homossexuais foram mortos no país.
Mesmo sem saber até quando ficará por aqui, uma coisa ele já decidiu: não quer mais voltar para sua terra natal. “A mentalidade islâmica é o contrário do que eu penso, do que eu quero ser. Rejeitei os valores, a cultura... Não sobrou praticamente nada do meu país em mim", explica. "Venho me trabalhando sistematicamente para me tornar uma pessoa diferente. E agora quero um novo começo.”
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S. J. engineer spent much of his 38 years fighting against the world and against himself for attraction to men. Born in a Muslim country where homosexuality is considered a crime, he had to leave everything behind after being beaten, blackmailed, kidnapped and tortured when his secret came to light.
Now try to recover emotionally and rebuild their lives in Brazil, where he managed to escape in 2014 and permanent residence months later.
S. agreed to speak on condition that his name and home country were not disclosed. He says he noticed a lot of homophobia among Brazilians and are afraid of losing customers in the business created to pay the bills around here.
He says he realized it was "different" in early adolescence. "I hated myself. I lived in self-denial. In my country we are not free to be who we are. I felt a pain in the heart. I thought: what is wrong with me, "he says.
S. had her first boyfriend in college, when he won a scholarship to study in another country. But there is also a crime to be homosexual. "It was extremely difficult. I did not have to talk about it. And the continued denial, "he recalls.
He then decided to "try to turn straight." He related with women and found that, in fact, also feels threatened by them. Bisexuality left even more confused, and he tried his best to hide their relationships with men.
But did not make it. "I was caught. People saw me, I could no longer hide. And when this is so, the person's life is doomed, "he explains.
He was then forced to talk to the family. "All the talk was toward blame and I also think how we would protect ourselves because it was too dangerous," he says.
S. said they were blackmailed and that he and his sister were beaten at home and on the street. Also said to have been tortured and kidnapped. "They took me into a mosque and there tried to turn me straight," he begins. But does not give more details. He says the memory is too painful. "I do not want to talk about it," interrupts. Also prefer not to talk more of the family, who cut ties.
Arrival in Brazil
After he left his land, S. lived in a developed country for eight years. At the end of that period to have their request denied permanent residence and unable to return home, he decided to try his luck in Latin America.
It started in a Caribbean country that did not require a tourist visa for people of their nationality. But it was detained for risk of illegal immigration and, from there, was being played from one country to another, living in detention centers, to get to Brazil, where he managed to support the Caritas organization.
Today, she lives on the outskirts of São Paulo and gives language lessons to support himself. Not dating. The total focus, he says, is at work - to talk about their professional and social projects, his face lights up for the first time in the interview.
With difficulty sleeping because of physical and psychological abuse he lived, he was diagnosed with post-traumatic stress disorder and taking psychiatric drugs.
Still recovering from depression. "It got to a point where no longer wanted to live," he says, adding that he decided to "give a chance" to himself. "My psychiatrist and social workers helped me back to life. But it will be a long process that I have to face. "
The turning point happened about five years ago when he decided to speak openly about his attraction to the same sex in a discussion group on trauma. "When I began to verbalize what happened to me, he gave me a relief. I felt free for the first time. Was the beginning of my true freedom, "he says.
S. already made friends in Brazil and can tell the truth for most of them. But he was surprised by the bias of Brazilian society toward gays. "I saw the carnival, I thought it would be great. But the day to day is different, "he says.
According to estimates, every 28 hours a homosexual dies violently in Brazil. Since the beginning of 2016, 132 homosexuals were killed in the country.
Even without knowing how long will be here, one thing he has decided: do not want to return to their homeland. "The Islamic mentality is the opposite of what I think, what I want to be. Rejected the values, culture ... not left practically nothing of my country in me, "he explains." I've been working systematically me to become a different person. And now I want a new beginning. "
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