Apesar de reunir uma pluralidade de crenças e estilos de vida, a intolerância contra lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais ainda é grande.
Uma terra de contrastes. Ao mesmo tempo em que Jerusalém é considerada sagrada por três religiões monoteístas – o cristianismo, o judaísmo e o islamismo – e reúne símbolos e pessoas tão diferentes entre si, é também terreno sinuoso para a manifestação de direitos civis. A cidade abriga uma comunidade LGBT vibrante, mas que frequentemente é alvo das camadas mais conservadoras.
Em Jerusalém, há apenas um bar para o público LGBT e a realização da Parada do Orgulho foi um direito conquistado após muito esforço. Ela reuniu quatro mil pessoas em 2011, que exigiram a aprovação de uma legislação que proteja LGBTs em Israel. Indignados com o desfile, grupos de judeus ortodoxos protestaram em diversos pontos da cidade, controlados por cerca de mil policiais espalhados por Jerusalém -- alguns chegaram a agredir os participantes do evento. Em junho daquele ano, a marcha em Tel Aviv conseguiu reunir 70 mil pessoas.
“Embora não existam tantos homossexuais quanto em Tel Aviv, todos os anos Jerusalém atrai milhares de ativistas gays para participar da marcha, para mostrar que, mesmo que os religiosos nos considerem ‘sujos’, esta é nossa cidade também”, comenta A.S. um membro da comunidade LGBT da cidade.
Apesar das diversas ameaças de morte que recebem ano após ano durante a parada, a manifestação anual se supera cada vez mais em termos de assistência e organização. “A diferença entre a nossa marcha anual e a de Tel Aviv e outras partes do mundo é que, em Jerusalém, adquire também um significado de luta pelos nossos direitos e contra o ódio que uma ampla maioria da população de Jerusalém sente por nós”, acrescenta Natalie V., uma belga que desembarcou em Jerusalém há cinco anos.
Natalie, que há cinco anos namora uma mulher israelense, é prova da dualidade do estado de Israel em relação à lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais. Embora Israel seja um país democrático, o judaísmo ortodoxo interfere em muitos assuntos civis, incluindo os casamentos. Em Israel, é impossível realizar um casamento civil, mesmo entre heterossexuais. No entanto, em uma distorção, estão permitidas as uniões homoafetivas, inclusive se uma delas for estrangeira, como é o caso de Natalie.
“É curioso que isto seja possível em um país onde predomina tanto a religião. Eu quero deixar claro que em Jerusalém e Israel, até o momento, não tive nenhum problema por andar de mãos dadas com a minha namorada, nem por darmos um beijo”, diz. “No entanto, trabalho com uma família ortodoxa judia e não comentei nada sobre a minha orientação sexual em quase quatro anos", conta Natalie.
Ultraortodoxos caminhando ao lado de uma mulher muçulmana usando o véu e uma menina de minissaia logo atrás são cenas comuns nas ruas de Jerusalém. E é nessa heterogeneidade que, no final, reside uma espécie de acordo tácito de não agressão. Embora, às vezes, essa bolha possa estourar, como aconteceu durante a Parada do Orgulho LGBT de 2005, quando um judeu ultraortodoxo esfaqueou vários participantes. Atentado pior aconteceu à comunidade LGBT de Tel Aviv, quando uma bomba matou duas pessoas e feriu uma. O culpado, um colono da Cisjordânia, afirmou que LGBTs são “animais”.
Portanto, apesar da mescla aparentemente suave entre religiosos e seculares em Jerusalém, assim como no resto do país, uma tensão soterrada pulsa abaixo da superfície. “Aqui, em geral, como os gays não carregam um cartaz dizendo ‘sou gay’, não há tantos problemas, mas também você não vai dar um beijo em outro homem em Mea Shearim (o bairro ultraortodoxo), não queremos provocá-los em seu bairro”, diz Adam.
Segundo ele, porém, o resto da cidade é de todos. O bar Mikve, antes conhecido como Shushan, na rua Shushan, foi o primeiro voltado para o público LGBT a ser aberto na cidade. O lugar está vivendo uma nova era dourada depois de permanecer fechado durante muitos anos devido às pressões dos ortodoxos. Durante toda a semana há festas para clientes e as segundas-feiras são exclusivas das drag queens.
“Em Jerusalém, não há muitas festas nem lugares para dançar, por isso sempre aparecem heterossexuais. Na cidade, todos nos conhecemos e amigos de todas as orientações sexuais se juntam a nós. Estamos misturados”, conta com um sorriso Daniel R., empresário.
A empresa encarregada de organizar as festas, Unibra, garante que é um sucesso, que atrai dezenas de pessoas a semana toda, embora as festas drag sejam as preferidas. “As pessoas querem se divertir, já estão cansadas de se esconder, mas infelizmente nesta cidade não há lugares para onde sair à noite”, lamenta a Unibra.
Palestinos
Para os membros da comunidade LGBT palestina os desafios são ainda maiores. “Para eles é mais difícil, pois vem de uma sociedade mais conservadora, em que a homossexualidade é punida ou humilhada em público. Por isso, a última coisa que querem é fazer uma declaração pública de que são gays, sejam homens ou mulheres”, explica Adam.
A organização para palestinos LGBTs em Israel Al Qaws organiza eventos para os palestinos e ajuda a criar uma rede de apoio e conscientização entre a comunidade árabe. Uma vez por mês organiza uma festa para que LGBTs palestinos que vivem em Israel possam se conhecer.
“Mesmo que os palestinos que vivem em Israel contem com os mesmos direitos que os cidadãos judeus, muitas vezes há racismo e incompreensão em relação aos gays palestinos”, comenta um porta-voz da Al Qaws. “Há também muita incompreensão por parte da comunidade internacional, que se foca na ocupação israelense. Além disso, a opinião da comunidade palestina pesa demais. Dessa forma, não podemos esperar que eles saiam do armário como no Ocidente.”
Às vezes, Israel chega a acolher como refugiados palestinos LGBTs que correm risco de morte ou que tenham recebido ameaças, embora não seja algo tão frequente. Enquanto isso, em Jerusalém, continua a luta para que a comunidade religiosa aceite lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais, se não como iguais, como cidadãos com os mesmos direitos de todos.
“Este é o nosso objetivo. Não queremos nem mais nem menos do que têm os demais e poder passear tranquilamente de mãos dadas, sem ter medo que nos façam sentir inferiores, nem ter a nossa Parada do Orgulho Gay cercada por centenas de policiais”, diz Adam.
Para mostrar que, embora nem sempre venha à tona, o ódio contra LGBTs corre solto em Jerusalém, em 2006 foi a homofobia que uniu representantes das três religiões monoteístas para protestar contra a Parada do Orgulho LGBT daquele ano. “É uma pena. Poderiam ter se unido para protestar contra outras coisas mais importantes”, lamenta Adam.
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While assembling a plurality of beliefs and lifestyles, intolerance against lesbians, gays, bisexuals, transvestites and transsexuals is still great.
A land of contrasts. While Jerusalem is considered holy by three faiths - Christianity, Judaism and Islam - and brings together symbols and people so different, it is also meandering ground for the manifestation of civil rights. The city hosts a vibrant LGBT community, but it is often more conservative target of layers.
In Jerusalem, there is only one bar to the public and the realization of the LGBT Pride Parade was a right won after much effort. She met four thousand people in 2011, which required the approval of legislation that protects LGBT people in Israel. Indignant at the parade, groups of Orthodox Jews protested in various parts of the city, controlled by a thousand policemen scattered Jerusalem - some even attacking the participants. In June of that year, the march in Tel Aviv managed to gather 70,000 people.
"Although there are many gay and in Tel Aviv, Jerusalem every year attracts thousands of gay activists to join the march, to show that even in the religious consider 'dirty', this is our town too," said AS a member the LGBT community in the city.
Despite many death threats they receive year after year during the parade, the annual event excels more in terms of assistance and organization. "The difference between our annual march and Tel Aviv and other parts of the world is that in Jerusalem, also becomes a means to fight for our rights and the hatred that the vast majority of the population of Jerusalem has for us," adds Natalie V., a Belgian who arrived in Jerusalem five years ago.
Natalie, who for five years dating an Israeli woman, is proof of the duality of the state of Israel in relation to lesbian, gay, bisexual and transgender. Although Israel is a democratic country, Orthodox Judaism interferes with many civil affairs, including weddings. In Israel, it is impossible to perform a civil marriage, even among heterosexuals. However, a distortion, the joints are allowed homoafetivas, even if one is foreign, such as Natalie.
"It is curious that this is possible in a country where both the dominant religion. I want to make it clear that Jerusalem and Israel, until now, had no problem by holding hands with my girlfriend, or by giving a kiss, "he says. "However, working with an Orthodox Jewish family and not say anything about my sexual orientation in nearly four years," says Natalie.
Ultra-Orthodox walking next to a Muslim woman wearing the veil and a girl in a miniskirt behind scenes are common on the streets of Jerusalem. And it is this heterogeneity that, in the end, lies a kind of tacit non-aggression. Although, sometimes, this bubble can burst, as happened during the LGBT Pride Parade 2005, when an ultra-Orthodox Jew stabbed several participants. Worst attack happened to the LGBT community in Tel Aviv, when a bomb killed two people and wounded one. The culprit, a settler in the West Bank, said that LGBT people are "animals".
Therefore, despite the apparently smooth blend between religious and secular in Jerusalem, as well as the rest of the country, a voltage pulses buried below the surface. "Here, in general, as gays do not carry a sign saying 'I'm gay, there are so many problems, but you're not going to kiss another man in Mea Shearim (ultra-Orthodox neighborhood) do not want to provoke them into your neighborhood, "says Adam.
According to him, but the rest of the city belongs to everyone. Mikve The bar, formerly known as Shushan, Shushan on the street, was the first targeted toward LGBT to be opened in the city. The place is experiencing a new golden age after remaining closed for many years due to the pressures of the orthodox. Throughout the week there are parties for clients and Mondays are exclusive of drag queens.
"In Jerusalem, there are not many places to dance or party, so always appear heterosexual. In town, we all know and friends of all sexual orientations join us. We're mixed, "he says with a smile Daniel R., businessman.
The company in charge of organizing the parties, Unibra, ensures that it is a success, attracting dozens of people all week, although the parties drag are preferred. "People want to have fun, are tired of hiding, but unfortunately in this town there are places where to go out at night," laments the Unibra.
Palestinians
For members of the Palestinian LGBT community the challenges are even greater. "For them it is more difficult, because it comes from a more conservative society, where homosexuality is punished or humiliated in public. So the last thing they want is to make a public statement that they are gay, male or female, "says Adam.
The organization for LGBT Palestinians in Israel Al QAWS organizes events for the Palestinians and help create a network of support and awareness among the Arab community. Once a month they organize a party for LGBT Palestinians living in Israel can meet.
"Even if the Palestinians living in Israel are provided with the same rights as Jewish citizens, there is often misunderstanding and racism in relation to gay Palestinians," said a spokesman for Al QAWS. "There is also much misunderstanding on the part of the international community, which focuses on the Israeli occupation. Moreover, the opinion of the Palestinian community weighs too much. Thus, we can not expect them to leave the cabinet and the West. "
Sometimes, Israel comes to accept Palestinian refugees as LGBT people at risk of death or who have received threats, although it is not something so common. Meanwhile, in Jerusalem, continues to fight for the religious community accepts lesbians, gays, bisexuals, transvestites and transsexuals, if not as equals, as citizens with equal rights for all.
"This is our goal. We want neither more nor less than others and are able to walk quietly hand in hand, without fear that make us feel inferior, nor have our Gay Pride Parade surrounded by hundreds of police, "says Adam.
To show that, although not always come to light, the hatred against LGBT runs rampant in Jerusalem in 2006 was the homophobia that brought together representatives of the three monotheistic religions to protest against the LGBT Pride Parade that year. "It's a shame. They could have joined to protest against other more important things, "Adam laments.
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